Talvez seja melhor começar essa conversa explicando o que é Burnout. Esse termo foi utilizado pela primeira vez pelo psicanalista americano Herbert J. Freudenberger em 1974 e se refere a um esgotamento e estresse crônico no trabalho, levando à exaustão física e mental.
Alguns sintomas físicos da síndrome de Burnout são: insônia, dores de cabeça constantes, dores musculares e palpitações. Já entre os sintomas mentais, podemos citar: desânimo, isolamento, irritabilidade, tristeza excessiva, perda de memória e dificuldade de concentração. A OMS (Organização Mundial da Saúde) incluiu o Burnout na lista de doenças relacionadas ao trabalho em 2020, descrevendo-o como uma síndrome ocupacional crônica.
No entanto, meu objetivo é que possamos ampliar essa discussão para falar do Burnout na adolescência. Como professor, convivo há mais de duas décadas com estudantes que fazem parte da geração Z e, infelizmente, o que tenho observado é uma escalada nos quadros de ansiedade, depressão e desesperança quanto ao futuro.
Antes de discutir os motivos e como lidar com a síndrome de Burnout na adolescência, quero chamar a atenção para algumas crenças limitantes que não favorecem um ambiente mais positivo e empático ao problema. São elas:
- “A mudança de humor nos adolescentes é culpa dos hormônios.”
- “Adolescentes se rebelam só para chamar atenção.”
- “Essas desculpas envolvendo saúde mental são sinal de fraqueza.”
- “Não há motivo para um adolescente estar esgotado, ele está apenas começando a vida.”
Em outros momentos, já discutimos alguns fatores que impactam a regulação emocional nessa fase da vida no século 21, como a dependência dos smartphones, a imaturidade do cérebro adolescente e a dificuldade de estabelecer vínculos sociais. Mas eu gostaria de aprofundar essa discussão falando do sentimento de inadequação e incapacidade. Minha percepção é que a competitividade, as comparações e a busca por resultados, muitas vezes alimentadas de maneira irracional dentro das redes sociais, têm levado esses adolescentes a um maior sofrimento psicológico. Além disso, esta é uma fase de transição, em que naturalmente diminuem os vínculos com pais e professores, pois, em busca de sua identidade, os adolescentes experimentam outros grupos sociais.
Para encerrar essa breve análise sobre os motivos que têm levado adolescentes ao Burnout, me permitam fazer uma autocrítica ao padrasto e ao professor que já fui um dia. Está faltando adultos no mundo: maduros, seguros, conscientes e empáticos, que participem desse processo de transição como mentores, fornecendo exemplos éticos e segurança psicológica.
Agora, como podemos ajudá-los nesse processo de amadurecimento emocional? Gosto de pensar que precisamos agir como “cientistas das emoções”. Em síntese, isso significa:
- Esteja atento às mudanças de comportamento, isolamento, baixo rendimento escolar, desmotivação e alterações de humor.
- Esteja aberto ao diálogo, sem julgamento ou pressa para propor soluções.
- Busque equilíbrio ao propor obrigações e momentos de lazer; a cobrança excessiva adoece as pessoas.
- Incentive o autocuidado e busque fortalecer a autoestima, sem forçar a barra e com foco no comportamento, não no resultado.
- Esteja presente, oferecendo tempo de qualidade e escuta ativa.
- Busque informação de qualidade para lidar com esse desafio e, se sentir necessidade, procure ajuda especializada com psicólogos e/ou psiquiatras.
Por fim, tenha consciência de que tudo isso é muito difícil de fazer. A vida cotidiana, atribulada e urgente, insiste em roubar nossa atenção e energia. Mas lembro a todos que somos seres sociais, e talvez nossa missão aqui não seja “vencer na vida”, mas “aprender a conviver”. Refletir sobre isso pode ajudar a regular melhor suas expectativas sobre você mesmo e também sobre os adolescentes. Pode ser que isso funcione; o que temos certeza é que o caminho atual tem comprometido o futuro e a saúde física e mental de muita gente.